LEIS
PONDERAIS E CONTINUIDADE
Pretende-se,
agora, mostrar que as leis em que se fundamenta a química permitem a
passagem do Modelo II para o Modelo III. Para isto, inicialmente as
próprias leis fundamentais serão comentadas. São elas as
conhecidas leis de Lavoisier (para uma reação química que ocorre
em um sistema fechado, a massa dos produtos é igual à soma das
massas dos reagentes) Proust (um dado composto contém
seus elementos constituintes em uma dada proporção),
Gay-Lussac (numa reação de elementos no estado gasoso, os volumes
dos reagentes e dos produtos, nas mesmas condições de pressão e
temperatura, estão entre si como pequenos números inteiros)
e Avogadro (volumes iguais de todos os gases, nas mesmas condições
físicas, contêm o mesmo número de moléculas).
Avogadro
partiu das observações de Gay-Lussac, mas considerou que as
moléculas, no estado gasoso, em média estão distantes o suficiente
para que as forças de interação entre elas sejam desprezadas.
Portanto, nas mesmas condições de temperatura e pressão, a
distância média entre as moléculas seria a mesma para qualquer
gás, logo o volume só dependeria da quantidade de moléculas. Tanto
para a lei de Avogadro, quanto para a teoria atômica de Dalton,
é uma premissa a matéria ser descontínua e formada por partículas
indivisíveis. Porém, na teoria atômica de Dalton a premissa é o
átomo, sendo o composto formado pela combinação de átomos de
elementos diferentes, numa proporção de números inteiros (para o
composto, Dalton não utiliza o termo molécula). Avogadro introduz o
conceito de molécula, podendo esta ser formada por átomos do mesmo
elemento ou de elementos diferentes, sempre numa proporção de
números inteiros.
As
leis de Lavoisier, Proust e Gay-Lussac não exigem o conhecimento das
estruturas das substâncias, logo não exigem que a matéria seja
descontínua e formada por moléculas indivisíveis, com uma
proporção bem definida de átomos. Por exemplo, considere que duas
substâncias simples A2 e B2 , com massas
moleculares respectivamente nos valores de 10 e 30 u, reajam de
acordo com a equação química:
A2
+ 2B2 → 2AB2
Para
verificar a validade das três leis para esta reação, basta apenas
notar que a equação química mostra que 1 g de A2 reage
com 6 g de B2 formando 7 g do composto (no caso da
proporção em volume, 1 L de A2 reage com 2 L de B2
formando 2 L do composto AB2).
Porém,
a lei de Avogadro parte da premissa de que a matéria é constituída
de moléculas e, portanto, que a matéria, além de ser descontínua,
contém átomos que se agrupam em moléculas. Para a mesma reação e
substâncias do exemplo, considere que estas sejam conjuntos de
átomos, os quais não se agrupem em moléculas. Logo, suponha que as
substâncias simples tenham apenas átomos de A ou de B, enquanto que
o composto seja constituído por átomos de A e B, na proporção de
dois átomos de B para cada átomo de A. Para reagentes e produtos
nas mesmas condições de pressão e temperatura, a lei de Avogadro
não seria observada se, no seu enunciado, a palavra "moléculas"
fosse substituída por "átomos", uma vez que a proporção
atômica é 1:2:3, enquanto que a proporção volumétrica é 1:2:2.
Mas as leis de Lavoisier, Proust, Gay-Lussac e Avogadro serão
obedecidas se o conceito de molécula for usado.
O
método de determinação das massas atômicas de Cannizzaro
é fundamentado na idéia de que a molécula precisa conter um número
inteiro de átomos de cada elemento que a constitui. Assim, a massa
molecular deve ser a soma de múltiplos inteiros das massas atômicas
dos elementos que formam a substância. Partindo da lei de Avogadro,
considerando que a massa molecular do gás hidrogênio seja 2u e
conhecendo a composição em massa de várias substâncias,
Cannizzaro fez uma série de medidas e obteve as massas moleculares
relativas para uma quantidade de compostos gasosos. Por exemplo, para
compostos oxigenados foram determinadas massas relativas de oxigênio,
obtendo-se, entre outros, os seguintes valores:
Todos
os valores obtidos para a massa relativa de oxigênio são múltiplos
de 16 e, como a premissa é que na molécula existem números
inteiros de átomos, a massa atômica do oxigênio só pode ser 16
(em nenhum composto oxigenado a massa relativa de oxigênio é,
apenas, múltiplo de 2, 4 ou 8).
No
método de Cannizzaro, assim como na comprovação das leis de
Lavoisier, Proust, Gay-Lussac e Avogadro, todos os valores são
calculados a partir de observações macroscópicas, especialmente
observações de massas e volumes. Ao se fazer, conforme proposto na
seção anterior, com que m e v diminuam na mesma
proporção do aumento de N, pode permanecer inalterada
a validade das quatro leis e do método de Cannizzaro, tanto em
relação ao aumento finito de N quanto em relação à sua
extrapolação para infinitas moléculas, cada uma delas com massa e
volume nulos. A anterior apresentação claramente indica que isto
ocorrerá sempre que, ao se passar do Modelo II para o Modelo III,
forem mantidas as proporções entre os números de moléculas de
todas as espécies químicas presentes.
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